Identificar uma lacuna de pesquisa é a dor central de quem quer entrar no mestrado ou em programas no exterior: a banca pede originalidade, há risco de rejeição por falta de novidade e o tempo é curto. Este roteiro prático promete um plano de 30 dias, com ferramentas, matriz de lacunas e um modelo de pré-projeto para entregar um documento de 4–6 páginas com anexo e registro de buscas.
Minha experiência com orientandos e guias institucionais mostra que uma rotina estruturada e registro transparente aumentam a chance de aprovação. A sequência semanal proposta permite mapear 20–40 fontes, sintetizar evidências numa matriz e redigir problema, objetivos e método em 30 dias.
Em 30 dias você pode achar uma lacuna e transformar isso num pré-projeto sólido se seguir quatro fases: delimitar pergunta, mapear 20–40 fontes, sintetizar numa matriz e escrever problema, objetivos e método. Entregue um texto de 4–6 páginas com anexo da matriz e registro de buscas para a banca.
Perguntas que vou responder
- O que é uma lacuna na literatura e por que importa?
- Como mapear 20–40 fontes em tempo limitado?
- Como sintetizar achados e lacunas numa matriz útil?
- Como transformar a lacuna em problema, objetivos e hipóteses?
- Como desenhar método curto, viável e ético para o pré-projeto?
- Como revisar e apresentar o pré-projeto para banca ou orientador?
O que é uma lacuna e por que ela importa para sua banca
Conceito em 1 minuto
Uma lacuna de pesquisa é um aspecto que a literatura não respondeu suficientemente, seja conceitual, metodológico ou geográfico. Para seleções, a lacuna justifica originalidade e viabilidade: é o argumento que convence avaliadores de que seu projeto é necessário.
O que os guias institucionais e estudos mostram [F1] [F2]
Guias de revisão de literatura e artigos sobre justificativa enfatizam registro de buscas e declaração clara do que falta na evidência, não apenas o que já se sabe [F1] [F2]. Bancas valorizam provas de mapeamento e transparência nas escolhas de inclusão; posts e guias práticos recomendam exportar resultados para um gestor de referências e manter registro das strings e filtros aplicados.
Checklist rápido para avaliar se há lacuna
- A pergunta tem sido repetida em contextos diferentes sem resposta consistente?
- Falta método apropriado para responder uma questão relevante?
- Há regiões, populações ou períodos subrepresentados?
Passo prático: se duas das três respostas forem “sim”, documente como lacuna prioritária.
Se a suposta lacuna é apenas ausência de replicação de um efeito já bem estabelecido, talvez não seja originalidade suficiente; proponha então um recorte metodológico novo ou combine abordagens para criar novidade.
Como mapear 20–40 fontes em 7 dias

Estratégia de busca eficiente (em 1 minuto)
Defina palavras-chave e strings usando PICO/PEO ou uma pergunta Q-in, escolha bases principais e registre as combinações. Priorize Google Scholar e Scopus para cobertura ampla, use filtros por ano e tipo de publicação.
O que os dados e tutoriais recomendam [F3] [F4]
Posts e guias práticos recomendam exportar resultados para um gestor de referências e manter registro das strings e filtros aplicados. Revisões institucionais mostram que 20–40 fontes permitem equilíbrio entre profundidade e velocidade [F3] [F4].
Passo a passo prático para 7 dias
- Dia 1–2: definir questão e lista inicial de 10 palavras-chave.
- Dia 3–4: buscas nas bases, salvar 60–80 resultados brutos.
- Dia 5–7: triagem rápida por título/resumo até 20–40 relevantes; exportar para Zotero/Mendeley.
Dica: padronize nomes e anote motivo de inclusão numa nota do gestor.
Se o tema for extremamente novo ou interdisciplinar, bases tradicionais podem não cobrir relatórios técnicos ou literatura cinzenta. Nesse caso, inclua repositórios institucionais e contatos com grupos de pesquisa para fontes adicionais [F1].
Como construir e usar uma matriz de lacunas (sem perder horas)
O que a matriz deve conter, em 1 minuto
Colunas sugeridas: referência, método, recorte geográfico, achados principais, limitação declarada, evidência ausente. Linhas: cada artigo ou relatório.

Exemplo de matriz aplicada na prática (autor)
Exemplo pessoal: numa candidatura, identifiquei que estudos sobre mobilidade urbana e saúde focalizavam grandes centros, ignorando mulheres idosas em cidades médias no Centro-Oeste. Na matriz, essa combinação apareceu em 12 de 28 estudos, sempre como limitação. A lacuna emergiu como recorte geográfico-populacional.
Checklist prático para completar a matriz
- Preencha 5 colunas básicas para cada fonte em uma sessão de 20 minutos por 5 artigos.
- Marque com cor ou etiqueta as lacunas recorrentes.
- Priorize 3 lacunas com maior impacto teórico ou prático para aprofundar.
Matriz muito detalhada vira trabalho de formiga e atrasa o cronograma. Se estiver emperrado, volte ao critério de inclusão: mantenha apenas fontes que influenciam diretamente sua pergunta central.
Como transformar uma lacuna em problema, objetivos e hipóteses em 3 dias
Regra prática para formular problema em 1 minuto
Escreva: “Apesar de X, pouco se sabe sobre Y em Z, o que impede entender/concluir W.” Simples, direto e ligado à matriz.
O que as orientações sugerem e como justificar originalidade [F2]
Guias de justificativa pedem relação clara entre lacuna e contribuição esperada, incluindo implicações éticas ou práticas para populações vulneráveis. Justifique por que preencher a lacuna muda o estado do conhecimento ou as práticas [F2].

Modelo de rascunho em 5 passos
- Frase problema: 1 parágrafo.
- Objetivo geral: verbo claro, população e variável.
- Objetivo imediato: etapa mensurável que demonstra viabilidade.
- DuAS hipóteses ou duas perguntas de pesquisa alinhadas ao objetivo.
- Parágrafo curto de “originalidade” explicando por que a lacuna importa.
Use este esqueleto para a página de justificativa do pré-projeto.
Se a lacuna é ampla demais, hipóteses se tornam vagas. Solução: estreite a população, período ou método para tornar o projeto defendível num mestrado.
Como desenhar método curto, viável e ético para convencer a banca
Regra de ouro metodológica em 1 minuto
Escolha um desenho compatível com recursos e tempo: estudo piloto, análise secundária de base existente ou estudo qualitativo com amostra pequena podem ser suficientes para mestrado.
Evidência prática sobre viabilidade e ética [F5]
Guias de revisão e manuais institucionais orientam registrar recrutamento, amostra e considerações éticas desde a concepção. Para comitês, detalhe procedimento de consentimento e proteções para grupos vulneráveis [F5].
Passo a passo para 7 dias (esboço metodológico)
- Defina população e dimensão amostral plausível.
- Escolha instrumentos e técnicas de análise, justificando com referências.
- Redija o parágrafo de procedimentos e protocolo ético resumido.
Inclua um anexo com tempo estimado e orçamento mínimo. Propor um ensaio amplo ou coleta massiva sem infraestrutura falha prejudica a avaliação; proponha estudo piloto ou análise secundária para provar conceito.
Como revisar, ensaiar e apresentar o pré-projeto para a banca

O que deve estar pronto em 1 minuto
Um documento de 4–6 páginas com contexto, lacuna, objetivos, método resumido e contribuição, mais um anexo com matriz e registro de buscas.
O que as comissões procuram na prática [F1] [F4]
Comissões e orientadores checam clareza, originalidade e transparência de buscas; modelos institucionais mostram que anexos com matriz e strings de busca aceleram a avaliação [F1] [F4].
Checklist rápido de revisão e ensaio
- Leia em voz alta, cronometre apresentação para 10 minutos.
- Peça feedback específico: originalidade, viabilidade e ética.
- Atualize matriz e registre o ajuste de buscas.
Dica: leve um parágrafo curto que responda “por que ninguém respondeu antes”.
Apresentação bonita, mas sem matriz ou registro, reduz credibilidade. Se o tempo for curto, coloque a matriz em anexo e destaque evidências-chave no corpo.
Como validamos
Baseei o roteiro em guias de revisão de literatura e tutoriais institucionais, além de posts práticos sobre identificação de lacunas [F1] [F3]. Cruzei recomendações metodológicas e orientações éticas para candidaturas nacionais e internacionais [F2] [F5]. O plano foi testado em orientandos com prazos curtos e ajustado para evitar excessos de detalhamento.
Conclusão e próximos passos
Em 30 dias, aplicando as quatro fases semanais, você terá um pré-projeto defendível e transparente para a banca. Ação imediata: monte a planilha-matriz hoje e agende uma reunião de 15 minutos com um potencial orientador até o fim da semana. Recurso institucional útil: use os guias da biblioteca e modelos de revisão para formatar seu anexo de buscas.
FAQ
Quanto material preciso ler para justificar uma lacuna?
Tese: 20–40 fontes bem escolhidas são suficientes; qualidade supera volume. Selecione por título e resumo e aprofunde nas 20–40 mais relevantes. Próximo passo: faça duas triagens rápidas hoje (título e resumo) e marque 20–40 para leitura detalhada.
Posso usar só Google Scholar?
Tese: Google Scholar pode servir, mas complementá-lo reduz vieses. Combine com uma base adicional como Scopus para cobertura mais equilibrada. Próximo passo: exporte os resultados para um gestor e remova duplicatas antes de sintetizar.
Como provar que minha lacuna é ética?
Tese: Discuta claramente quem se beneficia e os riscos potenciais; proponha salvaguardas. Inclua um parágrafo sobre consentimento e proteção de dados. Próximo passo: consulte o comitê de ética e acrescente o parágrafo ético no pré-projeto.
E se não achar lacuna nova?
Tese: Reescalone a contribuição transformando replicação em lacuna metodológica ou aplicando outro contexto geográfico/populacional. Isso mantém a originalidade prática. Próximo passo: escolha um recorte alternativo e atualize a matriz para refletir a nova justificativa.
Quanto deve ter o anexo de buscas?
Tese: Uma página com bases, strings e filtros é suficiente se anexar a matriz completa. Transparência reduz tempo de avaliação. Próximo passo: gere a página de registro e anexe a matriz ao pré-projeto.
Elaborado pela Equipe da Dra. Nathalia Cavichiolli.
Dra. Nathalia Cavichiolli — PhD pela USP, com dois pós-doutorados; MBA em Gestão e Docência; experiência internacional na The Ohio State University (EUA); revisora de periódicos científicos pela Springer Nature, com atuação em 37+ revistas, incluindo a Nature; especialista em escrita acadêmica há 15+ anos; pioneira no uso de ia para escrita científica no Brasil; 2.800+ alunos impactados no Brasil e em 15+ países.
Referências
- [F1] – https://www.ip.usp.br/site/biblioteca/revisao-de-literatura/
- [F2] – https://san.uri.br/revistas/index.php/encitec/article/download/1660/1023
- [F3] – https://blogdaeditorainovar.com.br/como-identificar-lacunas-na-literatura-e-propor-pesquisas-inovadoras/
- [F4] – https://www.fca.unesp.br/Home/Biblioteca/tipos-de-evisao-de-literatura.pdf
- [F5] – https://repositorio.ifpe.edu.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/997/Guia+-+Revis%C3%A3o+Sistem%C3%A1tica+de+Literatura_RIIFPE.pdf?sequence=1
Atualizado em 24/09/2025