A pressão para publicar é real, e a chegada de ferramentas de inteligência artificial promete acelerar descoberta, triagem e revisão; sem regras esse ganho vira risco de integridade e exclusão de idiomas e áreas menos atendidas. Neste texto você encontrará onde a IA já atua, quais riscos observar e passos práticos para adotar ferramentas com segurança, aplicáveis em 12–18 meses; análises recentes em revistas e relatórios de políticas mostram avanços em pré-triagem e problemas de vieses [F1].
A IA pode reduzir gargalos sem substituir o juízo humano, desde que haja transparência, auditoria e capacitação editorial. Aqui estão orientações práticas para autores, revisores e editores que querem implantar IA de forma responsável.
A adoção de IA no ecossistema científico acelera descoberta e triagem, automatiza metadados e auxilia revisores; porém, cria vetores de risco como vieses linguísticos, erros sistemáticos e falsa segurança quando decisões críticas são delegadas sem auditoria humana.
Perguntas que vou responder
- Como a IA muda os servidores de preprints e a descoberta?
- De que maneira os fluxos editoriais usam IA hoje?
- Como a revisão por pares é afetada por assistentes de IA?
- Quais são os principais riscos e vieses?
- Como implantar boas práticas em periódicos e universidades brasileiras?
- Que limites e contraexemplos devo considerar?
Como a IA está mudando servidores de preprints
Conceito em 1 minuto: o que muda nos preprints
Plataformas de preprints estão incorporando modelos para validar formatação, gerar metadados e sugerir categorias temáticas automaticamente. Isso reduz tempo para indexação e melhora descobribilidade, especialmente em pipelines onde IA faz pré-triagem e humanos validam antes da divulgação.

O que os dados mostram [F1] e exemplos reais
Estudos e reportagens recentes documentam testes de motores de sumarização e triagem automática em grandes servidores, com ganhos claros em velocidade de indexação e aumento de acessos iniciais [F1]. No Brasil, iniciativas regionais discutem interoperabilidade e padrões de metadados para preprints [F6].
Checklist rápido para servidores e autores
- Adicionar campo “IA_used” nos metadados, com booleano e descrição curta.
- Configurar pré-triagem automática apenas para conformidade técnica, não para avaliação científica.
- Rastrear versões e manter log de decisões automáticas com carimbo de tempo.
- Comunicar aos autores que a triagem é assistida por IA e que revisores humanos validarão a divulgação.
Cenário onde não funciona e o que fazer, rápido: se a pré-triagem bloquear submissões de línguas menos comuns por filtro treinado em inglês, reverter para validação humana e reavaliar o conjunto de treino com amostras multilíngues.
Como a IA altera processos editoriais em periódicos
Conceito em 1 minuto: automação no fluxo editorial
Editoras usam IA para detecção de plágio, checagem de metadados, avaliação de risco metodológico elementar e sugestão de revisores. Estratégia comum: pipelines híbridos onde IA pré-processa e editores decidem.
O que os dados mostram [F3] e impacto operacional
Relatos de auditoria apontam redução do tempo editorial em tarefas repetitivas, e ferramentas detectam padrões de manipulação ou texto provável de geração automática [F3]. Ao mesmo tempo, há registros de falsos positivos que exigem revisão humana cuidadosa.
Passo a passo para editoras que querem implantar IA
- Documentar claramente quais etapas são assistidas por IA.
- Implementar auditoria mensal dos resultados e métricas de falsos positivos/negativos.
- Definir que decisões finais sobre aceitação/recusa dependem de avaliação humana.
- Treinar equipe editorial para interpretar saídas e contestar resultados.
Contraexemplo: se uma ferramenta de detecção de plágio bloquear trechos legítimos por tradução ruim, não automatize remoção; abrir processo de verificação humana e melhorar os filtros com exemplos verificados.
Como a revisão por pares se transforma com assistentes de IA

Conceito em 1 minuto: assistentes para revisores
Ferramentas capazes de checar estatística básica, sugerir referências faltantes e gerar sumários permitem que revisores foquem em interpretação e originalidade. A IA reduz carga, mas não substitui julgamento crítico.
Exemplo real e dados [F7][F8]
Pilotos em plataformas e preprints mostraram que sumários automáticos agilizam leitura inicial e que detectores de texto gerado por LLMs levantam sinais que depois precisam ser confirmados por avaliadores humanos [F7][F8]. Esses pilotos também expuseram limitações em contextos disciplinares específicos.
Passo a passo para revisores e coordenadores de banca
- Aceitar assistentes de triagem para preparar relatórios, mas sempre acrescentar avaliação crítica própria.
- Usar listas de verificação estatística geradas pela IA como ponto de partida.
- Exigir declaração de uso de IA por autores e, quando aplicável, por revisores.
Exemplo autoral: numa universidade federal, testamos um fluxo onde a IA preparava um resumo e checklists estatísticos; revisores gastaram 30% menos tempo em tarefas mecânicas, mas apontaram necessidade de ajustes específicos por área. Resultado: adotar piloto por mais seis meses com auditorias de desempenho.
Limitação importante: em análises estatísticas complexas a IA pode deixar passar falhas sutis; nesse caso, solicitar revisão por especialista humano em métodos.
Riscos, vieses e questões éticas que você precisa monitorar
Conceito em 1 minuto: onde as ferramentas falham

Algoritmos reproduzem vieses do conjunto de treino, favorecem línguas e fontes hegemônicas e geram falso senso de segurança se usados sem auditoria. Privacidade em processos de revisão também é um ponto sensível.
O que a literatura e relatórios mostram [F3][F5]
Pesquisas indicam vieses algorítmicos e erros sistemáticos na checagem automatizada que podem afetar avaliação de manuscritos, além de desafios em detectar texto gerado por IA com alta confiança [F3][F5]. Organizações de ética recomendam transparência e governança.
Plano de mitigação passo a passo
- Auditar periodicamente modelos com conjuntos multilíngues e por disciplina.
- Exigir declaração pública do uso de IA por autores.
- Proteger confidencialidade de revisões e exigir consentimento quando dados forem usados para treinar modelos.
- Implementar canal de contestação para autores e revisores.
Contraexemplo: se um detector marca erroneamente pesquisa em línguas minoritárias como gerada por IA, priorizar revisão humana e atualizar o conjunto de validação incluindo amostras dessas línguas.
Boas práticas e um roteiro aplicável para o Brasil
Conceito em 1 minuto: princípios essenciais
Transparência, auditoria humana e capacitação institucional. Priorizar etapas não decisórias para automação e garantir interoperabilidade de metadados entre preprints, editoras e indexadores.

O que as guias e organizações recomendam [F4][F6]
Fóruns internacionais e grupos de ética editorial defendem declaração de uso de IA e cautela em atribuição de autoria automática [F4]. Discussões regionais no Brasil enfatizam interoperabilidade e papel das universidades em governança [F6].
Checklist prático para implementação institucional
- Atualizar políticas editoriais para exigir declaração de uso de IA.
- Lançar pilotos de triagem assistida com revisão humana obrigatória.
- Padronizar campo “IA_used” em metadados de preprints e repositórios.
- Capacitar editores e revisores em literacia de IA.
- Auditar modelos com conjuntos locais e multilíngues.
Cenário de falha: quando instituições adotam soluções proprietárias sem interoperabilidade, gerando fragmentação. O que fazer: exigir exportação de logs e metadados; priorizar soluções que usem padrões abertos.
Como validamos
Compilamos evidências de estudos, reportagens e guias de políticas citados nesta matéria, e cruzamos recomendações globais com práticas observadas em plataformas e universidades brasileiras. Onde não havia dado robusto, privilegiam-se recomendações conservadoras: auditoria humana, declaração e pilotos locais.
Conclusão e próximos passos
Resumo: IA oferece ganhos reais de eficiência em preprints, fluxo editorial e revisão por pares, mas os riscos só são mitigados com transparência, auditoria e capacitação. Ação prática imediata: atualizar a política editorial do seu periódico ou repositório para exigir declaração de uso de IA e iniciar um piloto de triagem assistida com revisão humana.
FAQ
Preciso declarar que usei IA na escrita do manuscrito?
Sim. Recomenda-se declarar qualquer uso de IA no processo de produção, edição ou análise. Insira um campo na submissão com descrição curta do uso e ferramentas, pois isso protege reputação e facilita auditoria.
A IA pode escolher revisores por mim?
Pode sugerir nomes com base em conflito de interesse e expertise, mas a seleção final deve ser feita por editores. Use sugestões como ponto de partida e verifique conflitos manualmente como próximo passo.
Ferramentas de detecção de texto gerado por IA são confiáveis?
Não totalmente; ajudam a sinalizar padrões, mas têm falsos positivos e negativos. Confirme sinais com revisão humana e, se necessário, pedir explicações ao autor como ação prática.
Como auditar um modelo de IA se meu periódico não tem equipe técnica?
Comece com auditorias externas por universidades parceiras ou com amostras representativas avaliadas por especialistas. Parcerias institucionais são custo-efetivas e permitem auditoria sem grande investimento inicial.
E quanto à privacidade das revisões quando se usa IA?
Proteja dados; não permita que texto confidencial de revisões alimente modelos sem consentimento e contratos claros. Recomenda-se cláusula de uso de dados em acordos de revisão e verificação do fluxo de dados.
Elaborado pela Equipe da Dra. Nathalia Cavichiolli.
Dra. Nathalia Cavichiolli — PhD pela USP, com dois pós-doutorados; MBA em Gestão e Docência; experiência internacional na The Ohio State University (EUA); revisora de periódicos científicos pela Springer Nature, com atuação em 37+ revistas, incluindo a Nature; especialista em escrita acadêmica há 15+ anos; pioneira no uso de IA para escrita científica no Brasil; 2.800+ alunos impactados no Brasil e em 15+ países.
Referências
- [F1] – https://www.nature.com/articles/d41586-025-00894-7
- [F6] – https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/103497
- [F3] – https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11858604/
- [F7] – https://www.medrxiv.org/content/medrxiv/early/2025/07/17/2025.07.17.25331725.full.pdf
- [F8] – https://arxiv.org/pdf/2506.08134
- [F4] – https://publicationethics.org/guidance/cope-position/authorship-and-ai-tools