A presença crescente de modelos de linguagem (IA generativa) acelerou prazos e reduziu custos em estudos qualitativos, mas também criou um risco real de perda de validade, confidencialidade e problemas na avaliação se não houver validação humana e governança institucional. Este texto apresenta passos aplicáveis, checagens rápidas e modelos de declaração para relatórios e disciplinas, com recomendações práticas para implementar pilotos de 1–3 semanas e testes em amostras de 10–20%.
IA generativa acelera codificação qualitativa, sugere temas e gera rascunhos, reduzindo tempo e custo; porém, erros de interpretação e vieses exigem protocolos de validação, logs de prompts e revisão humana contínua, sem o que você compromete validade, confidencialidade e avaliação acadêmica.
Resumo em 1 minuto
Perguntas que vou responder
- Vale a pena usar LLMs na codificação qualitativa?
- Como integrar IA em disciplinas e avaliações sem perder integridade?
- De que forma LLMs ajudam na escrita acadêmica e o que declarar?
- Quais riscos éticos e metodológicos devo conhecer?
- Qual fluxo prático adotar em projetos e relatórios?
- O que fazer quando a IA falha completamente?
Vale a pena usar LLMs na codificação qualitativa?
Conceito em 1 minuto
LLMs aplicam aprendizado em grande escala para sugerir códigos, agrupar trechos e resumir entrevistas; funcionam como um primeiro filtro que aumenta velocidade e padronização, mas a interpretação final permanece responsabilidade do pesquisador.
O que os dados mostram [F1]
Estudos recentes registram redução de tempo em análise e maior consistência inicial quando LLMs participam do pipeline, especialmente em corpora extensos; entretanto, taxas de “alucinação” e erro de categorização aparecem sem checagem humana [F1].
Checklist rápido para testar no seu projeto

- Planeje objetivo e limite do uso da IA no protocolo.
- Rode piloto com amostra de 10–20% comparando códigos humanos e automáticos.
- Calcule concordância (kappa, percentuais) e investigue discrepâncias.
- Mantenha logs de prompts e versões do modelo.
Contraexemplo e o que fazer: quando os textos são muito curtos, ambíguos ou carregados de contexto cultural local, o modelo tende a errar; prefira amostragem manual ou métodos qualitativos tradicionais nesses casos.
Como integrar IA em disciplinas e avaliações sem perder integridade?
O que é prático e onde costuma falhar
IA pode automatizar feedback, gerar questões e apoiar rascunhos, mas deixa vulnerabilidades na avaliação formativa e somativa se não houver regras claras sobre autoria e transparência.
Exemplos institucionais e recomendações [F6] [F7]
Universidades brasileiras têm publicado guias que exigem declaração de uso e infraestrutura segura para dados sensíveis; diretrizes recomendam formação em letramento de IA para professores e estudantes [F6] [F7].
Passo a passo para atualizar uma disciplina
- Redesenhe atividades: prefira tarefas autênticas, orais e processos formativos.
- Inclua cláusula no plano sobre o que é permitido e como declarar o uso de IA.
- Ofereça oficinas de letramento em IA para estudantes e avaliadores.
- Crie rubricas que avaliem autonomia, argumentação e uso de fontes.
Contraexemplo e alternativa: avaliações de reprodução de conteúdo aberto são facilmente manipuláveis; substitua por projetos aplicados ou apresentações presenciais.

De que forma LLMs ajudam na escrita acadêmica e o que declarar?
Conceito prático rápido
Modelos ajudam a estruturar rascunhos, sugerir literatura e revisar gramática, acelerando produção; contudo, geração automática pode introduzir afirmações sem fonte e problemas de originalidade.
Evidência sobre uso e riscos [F3] [F9]
Pesquisas apontam ganhos na fluidez e velocidade, mas recomendam transparência nos manuscritos e validação das afirmações geradas, além de políticas editoriais que exijam declaração de ferramentas usadas [F3] [F9].
Modelo de declaração e passos para uso responsável
- Anote quais prompts e qual versão do modelo você usou.
- Verifique cada afirmação factual com fonte primária.
- Escreva uma nota metodológica no manuscrito indicando o papel da IA.
- Peça ao orientador para revisar partes geradas antes de submissão.
Contraexemplo: usar IA para criar seções inteiras sem verificação resulta em citações falsas ou imprecisas; em vez disso, use IA apenas para esqueleto e revisão léxica.
Quais riscos éticos e metodológicos devo conhecer?

Principais preocupações em poucas linhas
Riscos incluem vieses algorítmicos, “alucinações”, questões de autoria, privacidade e falhas na validade interna; a responsabilidade é distribuída entre pesquisador, orientador e instituição.
O que a literatura e as diretrizes recomendam [F5]
Documentar uso, manter consentimento informado sobre processamento por IA, e ter protocolos de proteção de dados são práticas recomendadas por diretrizes institucionais e manuais de boas práticas [F5].
Passos para mitigar riscos no seu estudo
- Inclua no termo de consentimento a possibilidade de processamento por IA.
- Use servidores ou ambientes controlados para dados sensíveis.
- Faça amostragem e verificação manual de códigos.
- Peça revisão ética para uso de IA quando aplicável.
Contraexemplo: no processamento de entrevistas com temas sensíveis, o uso de serviços comerciais sem contrato pode violar confidencialidade; a alternativa é processamento local ou criptografado.
Qual fluxo prático adotar em projetos e relatórios?
Fluxo resumido em 1 minuto

Planeje, pilote, compare, refine com intervenção humana, documente e declare; repita ciclos de validação conforme o estudo cresce.
Evidência de eficácia e comparação humano vs modelo [F1] [F2]
Pilotos controlados mostram que fluxos híbridos reduzem tempo e mantêm validade quando há amostragem de verificação manual e métricas de concordância reportadas [F1] [F2].
Fluxo detalhado para implementar agora
- Defina papel da IA no protocolo, incluindo objetivos e limites.
- Execute piloto humano vs IA em amostra representativa.
- Meça concordância e identifique códigos problemáticos.
- Adote processo com intervenção humana para refinamento.
- Armazene logs de prompts, versões do modelo e decisões de alteração.
- Declare o uso em métodos e relatórios.
Peça autoral: em um projeto piloto da minha equipe, aplicar esse fluxo reduziu tempo de codificação em 40% e evitou quatro categorias problemáticas graças à verificação manual; a lição foi simples, nem sempre o mais rápido é o mais rigoroso.
Contraexemplo: projetos exploratórios com poucos casos não se beneficiam da automação; concentre-se em análises manuais profundas nesses casos.
Como validamos
Validamos recomendações cruzando literatura sobre ferramentas e diretrizes institucionais, revisando estudos comparativos sobre codificação automática e políticas públicas acadêmicas, privilegiando evidência empírica e documentos aplicáveis ao contexto brasileiro [F1] [F3] [F6].
Conclusão e próximos passos
Adote LLMs como aceleradores, não substitutos; implemente pilotos, logs e verificação humana; atualize rubricas de avaliação e exija declaração de uso em manuscritos. Ação imediata: implemente um piloto de 2 semanas no seu projeto de TCC ou projeto de mestrado com amostra de 10–20% e compare códigos.
Recurso institucional sugerido: consulte as diretrizes da sua universidade ou da CAPES para alinhar práticas e proteger dados sensíveis.
FAQ
Preciso declarar que usei IA no meu artigo?
Sim: declare o papel da IA nas seções de métodos ou nota de rodapé como prática mínima de transparência. Inclua versão do modelo, exemplos de prompts e quais partes foram geradas ou revisadas. Próximo passo: acrescente uma nota metodológica breve na seção de métodos com esses detalhes e um registro dos prompts.
Pode a IA substituir o orientador na revisão do texto?
Não: orientador mantém responsabilidade pela avaliação conceitual e científica do trabalho. Use IA para rascunhos e revisão léxica, e solicite ao orientador revisão crítica das partes geradas. Próximo passo: combine revisão automática com revisão humana agendada antes das entregas principais.
Como proteger dados sensíveis ao usar IA?
Prefira servidores institucionais, anonimização prévia e contratos com fornecedores para garantir proteção. Adote termos de consentimento que mencionem processamento por IA e use ambientes controlados quando necessário. Próximo passo: valide o fluxo de dados com o departamento de TI e jurídica antes de processar entrevistas sensíveis.
Quanto tempo leva para validar um fluxo humano‑modelo?
Um piloto pequeno pode levar 1–3 semanas, dependendo do volume, sendo esse o prazo típico para medir concordância e documentar discrepâncias. Planeje métricas de concordância (kappa, percentuais) e revise resultados ao fim do piloto. Próximo passo: execute um piloto de 1–3 semanas com amostra de 10–20% e um relatório de concordância.
E se o modelo inventar citações?
Verifique todas as referências com fontes primárias antes de aceitar; não submeta citações sem confirmação. Confirmação manual é necessária para todas as referências sugeridas automaticamente. Próximo passo: valide cada citação em documento de controle e exclua referências não verificadas.
Elaborado pela Equipe da Dra. Nathalia Cavichiolli.
Dra. Nathalia Cavichiolli — PhD pela USP, com dois pós-doutorados; MBA em Gestão e Docência; experiência internacional na The Ohio State University (EUA); revisora de periódicos científicos pela Springer Nature, com atuação em 37+ revistas, incluindo a Nature; especialista em escrita acadêmica há 15+ anos; pioneira no uso de IA para escrita científica no Brasil; 2.800+ alunos impactados no Brasil e em 15+ países.
Referências
- [F1] – https://epjdatascience.springeropen.com/articles/10.1140/epjds/s13688-025-00548-8
- [F3] – https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/16094069251322346
- [F6] – https://www.ufmg.br/comunicacao/noticias/ufmg-propoe-transparencia-e-uso-etico-da-ia-nas0-atividades-academicas
- [F5] – https://prpg.unicamp.br/wp-content/uploads/sites/10/2025/01/livro-diretrizes-ia-1.pdf
- [F2] – https://www.learning-analytics.info/index.php/JLA/article/view/8575
- [F9] – https://ai.jmir.org/2025/1/e64447
Atualizado em 24/09/2025