Escrever um artigo ou tese consome tempo e energia e a pressão para publicar aumenta a ansiedade; isso pode gerar atrasos na defesa ou retrabalho que comprometam prazos e bolsas. Este texto apresenta passos práticos para incorporar ferramentas de inteligência artificial na redação acadêmica, preservar responsabilidade autoral e reduzir etapas repetitivas. A leitura oferece um roteiro aplicável em 2–4 semanas para testar automações seguras, reduzir revisões e melhorar clareza, mantendo supervisão humana.
Escrever um artigo ou tese consome tempo e energia, e a pressão para publicar só aumenta a ansiedade. Você quer reduzir revisões e acelerar rascunhos sem sacrificar integridade acadêmica, e saber exatamente onde a IA ajuda e onde não ajuda.
Use IA para automatizar rascunhos, sumarizar literatura e corrigir estilo, mas mantenha controle humano sobre interpretações e dados. Com prompts claros, ferramentas com privacidade e declaração no manuscrito, é possível reduzir tempo de revisão em tarefas pontuais e cumprir normas editoriais.
Perguntas que vou responder
- Em quais etapas da escrita a IA é mais útil?
- Quais são os riscos éticos e como evitá‑los?
- Como escolher e configurar ferramentas seguras?
- Como declarar o uso de IA ao submeter um artigo?
- Como treinar orientadores e estudantes para usar IA bem?
Onde a IA ajuda mais no fluxo de escrita
Conceito em 1 minuto
IA aplicada à escrita acadêmica auxilia em esboço de estrutura, sumarização de textos, geração de rascunhos preliminares, edição linguística e formatação de referências. Recomenda‑se classificar usos em assistência técnica, apoio à pesquisa e co‑produção de texto [F1].
O que os dados mostram [F1]
Estudos apontam reduções de tempo em tarefas específicas: edição linguística e preparação de rascunhos tendem a apresentar os maiores ganhos, com estimativas de até 20–30% em cenários controlados [F2]. Falantes não nativos relatam aumento de produtividade significativo.

Checklist rápido para aplicar hoje
- Mapeie etapas repetitivas onde a IA pode entrar: revisão de estilo, resumo de artigos, formatação de referências.
- Escolha ferramentas com política de privacidade e histórico acadêmico.
- Use prompts curtos e instruções para revisão humana posterior.
- Documente o uso no manuscrito.
Quando não funciona: gerar resultados originais ou produzir interpretações de dados sem checagem humana. Se precisar de análise de dados ou inferências científicas, delegue apenas a revisão de linguagem e síntese, não a conclusão.
Riscos éticos e como mitigá‑los
Conceito em 1 minuto
Riscos incluem apresentação indevida de texto gerado por IA como autoria humana, vieses ocultos nos modelos e problemas de propriedade intelectual; autores continuam responsáveis pelo conteúdo final [F2][F3].
O que os dados mostram [F2][F3]
Editoras e pesquisas acadêmicas recomendam transparência: declarar uso de IA, não atribuir autoria à ferramenta e verificar fontes e afirmações factuais. Há casos relatados de textos com imprecisões causadas por alucinações do modelo.
Passo a passo prático para reduzir risco
- Defina o que é permitido: correção linguística, sumarização. Proíba: atribuição de autoria à IA, fabricação de dados.
- Exija declaração de uso em submissões e no método/acknowledgements.
- Faça revisão crítica humana focada em checagem de fatos e referências.
Quando a mitigação falha: se a equipe não treinar revisores para detectar alucinações. Solução: treinar orientadores e usar ferramentas de verificação de fatos complementares.

Como escolher ferramentas e proteger dados
Conceito em 1 minuto
Ferramentas variam: LLMs para rascunhos, editores automáticos para gramática, plataformas de busca semântica para revisão de literatura. Priorize fornecedores que garantem não retenção de dados confidenciais e oferecem controles de privacidade [F1][F5].
O que os dados mostram [F5]
Editoras recomendam que revisores não submetam textos confidenciais a ferramentas públicas que armazenam entradas. Plataformas especializadas para pesquisa acadêmica têm políticas mais rígidas e integrações com fluxos de submissão.
Checklist de seleção de ferramenta
- Verifique política de retenção de dados e uso comercial.
- Prefira soluções com histórico em contextos acadêmicos.
- Valide outputs com exemplos reais antes de adotar institucionalmente.
Quando não escolher bem: usar serviços gratuitos sem controle de dados durante revisão por pares. Medida alternativa: utilizar instâncias locais ou versões corporativas com contratos de confidencialidade.

Como criar políticas institucionais e declarar uso
Conceito em 1 minuto
Políticas locais devem especificar permissões, exigir declaração em submissões e responsabilizar autores humanos pela revisão final. Universidades e periódicos vêm adotando orientações semelhantes [F4][F5].
O que os dados mostram [F4]
No Brasil, iniciativas de periódicos e instituições públicas orientam a inclusão de declarações sobre IA e formação de comissões para treinar pesquisadores; modelos de política variam, mas consenso exige transparência.
Modelo simples de declaração para incluir no manuscrito
Exemplo de texto para acknowledgements: “Partes do processo de revisão linguística e síntese de literatura foram auxiliadas por ferramentas de IA; todas as revisões interpretativas e responsabilidades permanecem com os autores.”
Quando a política é vaga: se não houver clareza sobre autoria e responsabilidade, conflitos surgem. O que fazer: adotar texto padrão e treinamentos obrigatórios para tesistas e orientadores.
Exemplo prático e roteiro de 3 rascunhos (exemplo autoral)
Conceito em 1 minuto
Organize o trabalho em três rascunhos controlados: estrutura, conteúdo e polimento. Use IA em cada etapa com regras diferentes de supervisão.

Exemplo real aplicado por autoras
Num projeto de revisão, aplicamos IA para gerar um outline em 20 minutos, pedimos que a ferramenta sumarizasse 30 textos em blocos de 200 palavras, e reservamos a revisão interpretativa aos autores. Resultado: redução de horas em tarefas repetitivas e clareza maior na revisão subsequente.
Passo a passo para seguir agora
- Organize o trabalho em três rascunhos: peça um outline com 6 seções, revise e ajuste manualmente.
- Rascunho 2: gere parágrafos de preenchimento por seção, verifique fontes e reescreva interpretações.
- Rascunho 3: aplique editor automático para linguagem e formatação, depois revisão final humana.
Quando falha: confiar na IA para interpretar resultados estatísticos complexos. Alternativa: usar a IA apenas para redigir a seção de métodos, mas manter a análise e interpretação humanas.
Como validamos
Nossa síntese considerou diretrizes editoriais, estudos empíricos sobre ganho de eficiência e políticas institucionais nacionais, priorizando fontes acadêmicas e de editoras [F1][F2][F5]. Onde havia lacunas, preferimos recomendações prudentes baseadas em princípios de integridade acadêmica. Não inventamos dados: indicamos limitações e a necessidade de estudos controlados no Brasil [F6].
Conclusão e passo prático
Resumo: adote IA como assistente para rascunhos, sumarização e edição, mantenha revisão humana rigorosa e declare o uso no manuscrito. Ação prática hoje: escolha uma tarefa repetitiva (por exemplo, revisão linguística) e implemente um teste de duas semanas com uma ferramenta segura, documentando tempo gasto e problemas identificados.
FAQ
Preciso declarar que usei IA na minha tese de mestrado?
Declare o uso sempre que a IA contribuiu de forma não trivial; a transparência protege seu trabalho e evita impasses editoriais. Inclua a declaração na metodologia ou nos acknowledgements ao submeter e descreva o que foi feito passo a passo.
Posso listar a IA como coautora?
Não, ferramentas de IA não atendem aos critérios de autoria acadêmica; responsabilidade e julgamento ficam com os autores humanos. Ao submeter, cite o uso da ferramenta, mas mantenha autores humanos como responsáveis finais e insira uma declaração clara no manuscrito.
Qual ferramenta escolher para revisão linguística?
Prefira editores com histórico acadêmico e políticas claras de privacidade; soluções institucionais reduzem riscos de retenção de dados. Teste a ferramenta com textos curtos e registre problemas antes de expandir o uso.
E se a IA inventar uma referência?
Trate todas as referências geradas automaticamente como rascunhos e verifique cada citação na fonte original; isso evita incorreções e retrabalho. Implemente uma checagem sistemática de referências como etapa obrigatória na revisão final.
Como treinar orientadores rapidamente?
Realize workshops práticos com exemplos de prompts e sessões de detecção de falhas; treinar com casos reais aumenta a habilidade de auditoria crítica. Após o workshop, aplique um checklist de revisão e revise dois rascunhos por orientador em 30 dias.
Preciso declarar o uso de IA em submissões de periódicos?
Sim, declare o uso sempre que a IA contribuiu de forma não trivial; muitos periódicos exigem transparência para garantir integridade. Inclua a declaração na submissão e no método/acknowledgements conforme o padrão da sua área.
Elaborado pela Equipe da Dra. Nathalia Cavichiolli.
Dra. Nathalia Cavichiolli — PhD pela USP, com dois pós-doutorados; MBA em Gestão e Docência; experiência internacional na The Ohio State University (EUA); revisora de periódicos científicos pela Springer Nature, com atuação em 37+ revistas, incluindo a Nature; especialista em escrita acadêmica há 15+ anos; pioneira no uso de IA para escrita científica no Brasil; 2.800+ alunos impactados no Brasil e em 15+ países.
Referências
- [F1] – https://advancesinsimulation.biomedcentral.com/articles/10.1186/s41077-025-00350-6
- [F2] – https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11981593/
- [F3] – https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11838153/
- [F4] – https://www.scielo.br/j/eb/a/SJk53dtyBBfVq583TJhtGTz/
- [F5] – https://www.elsevier.com/about/policies-and-standards/generative-ai-policies-for-journals
- [F6] – https://www.nature.com/articles/s41599-025-05484-6