Publicar parece simples até o primeiro não, o primeiro comentário duro ou a indecisão sobre onde submeter; isso cria atraso na carreira e pode postergar sua entrada no mestrado. Há risco real de perda de oportunidade e de prorrogação do projeto se você esperar por “perfeição” ou se guiar por mitos sobre fator de impacto, OA e rejeição. Neste texto você recebe uma análise prática dos quatro mitos mais comuns, evidência aplicada e checklists para tomar decisões e agir em 7–14 dias.
Submeta quando o texto estiver sólido, não perfeito. Escolha periódico por escopo, público e políticas de APC/isenção; use preprint para feedback e visibilidade; e trate rejeição como dado para revisões, não como fim da linha.
Perguntas que vou responder
- Vale a pena submeter com dados incompletos?
- Só publicar em periódicos de alto fator vale para carreira?
- Open Access significa pagar e qualidade inferior?
- Uma rejeição ou preprint inviabiliza publicação?
- Como identificar periódicos predatórios?
- Quais passos práticos me deixam pronta para submeter?
Mito 1: preciso de dados “perfeitos” ou estudos enormes antes de submeter
Conceito em 1 minuto: o que significa “perfeição” e onde isso falha
Muitos autores entendem perfeição como amostra enorme, ausência de limitações e resultados estatisticamente perfeitos. Na prática, estudos relevantes trazem clareza metodológica e discussões honestas das limitações; isso é diferente de perfeição absoluta.

O que os dados mostram [F2]
Estudos sobre comportamento de submissão indicam que a espera por dados ideais aumenta procrastinação e viés de publicação. Em áreas qualitativas, amostras menores com análise rica têm impacto alto quando bem justificadas [F2].
Checklist rápido para decidir se submeter
- Objetivo claro do artigo; perguntas alinhadas com a análise.
- Metodologia descrita com transparência e limitações explicitadas.
- Revisão interna: 1 colega ou orientador lê e testa a lógica.
- Versão preprint pronta para receber feedback público, se aplicável.
Contraexemplo e quando não funciona: se sua amostra é estatisticamente insuficiente para a análise proposta, submeter pode levar a rejeição que consome tempo. O que fazer: repense o desenho, mude o escopo para relatório de caso ou estudo piloto e reestruture objetivos.
Mito 2: só revistas de alto fator e contatos importam para minha carreira
O que é e onde essa crença engana
Fator de impacto mede citações médias, não impacto prático ou audiência específica. Priorizar apenas JIF pode levar à escolha de periódicos desalinhados com o público que deve consumir seu trabalho.

Evidência prática e consequências [F1]
Guias editoriais e relatórios sobre a editoração científica no Brasil mostram que periódicos regionais e especializados exercem papel estratégico na visibilidade nacional e na avaliação por programas de pós-graduação [F1]. Escolher por escopo aumenta chances de revisão justa e citações úteis.
Passo a passo para mapear periódicos-alvo
- Liste três objetivos da publicação: reconhecimento acadêmico, impacto local, translacional.
- Busque periódicos cujo escopo inclua seu público.
- Verifique políticas de revisão, tempo de decisão e APC.
- Priorize 1 revista-alvo e 2 alternativas, ajuste conforme feedback.
Contraexemplo e quando não funciona: se sua avaliação de carreira exige publicar exclusivamente em periódicos X, priorize esse alvo, mas combine com estratégias de visibilidade (capítulos, conferências, preprints) enquanto tenta aceitações.
Mito 3: Open Access exige pagar e reduz qualidade
Conceito em 1 minuto: modelos OA e equívocos comuns
Open Access (OA) é uma política de acesso, não um sinônimo de pagamento. Existem modelos com e sem APC, políticas de isenção e periódicos diamond que não cobram autores.
O que os dados e guias mostram [F4] [F8]
Relatórios sobre políticas de OA descrevem opções de isenção e alternativas institucionais; guias de escrita científica apontam que OA aumenta visibilidade e não determina qualidade editorial [F4] [F8]. A associação entre APC e qualidade é frágil e pode induzir predadores.

Checklist para checar custos e qualidade
- Verifique política de APC e listas de isenção.
- Consulte a biblioteca ou núcleo de pesquisa sobre fundos institucionais.
- Analise editorial board e práticas de revisão.
- Use checklists de integridade editorial antes de aceitar pagar.
Contraexemplo e quando não funciona: alguns periódicos cobrando APC têm práticas questionáveis; se não encontrar informações claras sobre revisão e política ética, busque alternativas ou peça orientação à biblioteca institucional.
Mito 4: uma rejeição significa que devo desistir, e preprints inviabilizam publicação
O que significa rejeição e por que ela não é o fim
Rejeição é um resultado informativo: pode indicar desalinhamento de escopo, necessidade de revisão ou problemas metodológicos. Muitos artigos aceitos após revisão inicial passaram por rejeição em outra revista.

Evidência e práticas de preprint [F5] [F3]
Guias institucionais de divulgação descrevem o uso de preprints como etapa para feedback e transparência; estudos sobre integridade mostram que preprints não impedem publicação em periódicos de qualidade, desde que políticas sejam respeitadas [F5] [F3].
Passo a passo para reagir a rejeição e usar preprints
- Leia os comentários com distância emocional, sumarize pontos acionáveis.
- Decida: corrigir e reenviar ou ressubmeter a outro periódico.
- Se usar preprint, inclua versão revisada ao submeter e cite a política do periódico.
- Peça revisão interna antes de reenviar.
Contraexemplo e quando não funciona: se a rejeição aponta má conduta ou dados inválidos, reenviar sem corrigir é arriscado. O que fazer: reavalie os dados, consulte o orientador e, se necessário, realize análises complementares ou retrabalho ético.
Um exemplo autoral curto
Trabalhei com uma orientanda que atrasava a defesa por esperar “dados perfeitos”. Redefinimos objetivo, transformamos parte do estudo em estudo piloto e submetemos a um periódico regional adequado. A estratégia aumentou confiança e abriu portas para o mestrado.
Como validamos
Revisamos guias editoriais e estudos publicados entre out/2024 e out/2025, e cruzamos recomendações de associações editoriais com materiais institucionais. Priorizamos fontes que tratam de políticas editoriais, OA, e riscos de integridade para contextos com menos recursos [F1] [F2] [F3] [F4].
Conclusão e recursos práticos
Resumo: os quatro mitos são barreiras comportamentais e informacionais, não leis. Ação imediata: escolha hoje um periódico-alvo, preencha um checklist de submissão e submeta uma versão sólida, não perfeita. Recurso institucional: consulte a biblioteca ou núcleo de escrita da sua universidade para orientações sobre APC e revisão antes da submissão (âncora: guia de redação e suporte bibliotecário).
FAQ
Devo postar preprint antes de submeter?
Sim — preprint é recomendado quando o periódico aceita e você quer feedback público. Use o preprint para visibilidade e revisão externa; próximo passo: verifique a política do periódico e poste o preprint antes de submeter, citando-o na submissão.
Como identificar periódico predatório?
Verificação do conselho editorial, indexação e transparência de políticas é decisiva. Compare sinais com guias institucionais e peça ajuda à biblioteca; próximo passo: se algo estiver opaco, descarte o periódico e escolha alternativas com políticas claras.
Se meu orientador disser para esperar, e eu quero submeter?
Priorize diálogo orientado a evidência: apresente um checklist de submissão e tempo estimado. Se necessário, peça segunda opinião interna; próximo passo: apresente uma versão preprint para coleta de feedback enquanto negocia o cronograma com o orientador.
Quanto tempo leva para aprender a submeter bem?
Em semanas você pode mapear periódicos e preparar uma versão adequada; a prática reduz tempo de submissão. Próximo passo: estabeleça um plano de 2–4 semanas para mapear alvos e preparar checklist.
O que fazer se o periódico pedir pagamento e não houver isenção?
Busque fundos institucionais, alternativas OA diamond ou periódicos sem APC. Contate a biblioteca e negocie com coautores; próximo passo: solicitar apoio financeiro institucional antes de aceitar o pagamento.
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Elaborado pela Equipe da Dra. Nathalia Cavichiolli.
Dra. Nathalia Cavichiolli — PhD pela USP, com dois pós-doutorados; MBA em Gestão e Docência; experiência internacional na The Ohio State University (EUA); revisora de periódicos científicos pela Springer Nature, com atuação em 37+ revistas, incluindo a Nature; especialista em escrita acadêmica há 15+ anos; pioneira no uso de IA para escrita científica no Brasil; 2.800+ alunos impactados no Brasil e em 15+ países.
Referências
- [F2] – https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0895435624003056
- [F1] – https://www1.abecbrasil.org.br/arquivos/ebook/desafios_e_perspectivas_da_editoria_cientifica_2024/desafios_e_perspectivas_da_editoria_cientifica_2024.pdf
- [F4] – https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC12365406/
- [F8] – https://esp.pb.gov.br/nucleos/GuiadeEscritaCientficaDescomplicadaEstratgiadeReflexodaPraticaProfissionalnareadeSade.pdf
- [F5] – https://butantan.gov.br/covid/butantan-tira-duvida/tira-duvida-noticias/artigo-submetido-preprint-e-artigo-publicado-entenda-as-tres-etapas-para-a-divulgacao-de-um-estudo-cientifico
- [F3] – https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC11221348/