Se sua discussão vira uma revisão sem fim ou repete os resultados, este guia how-to mostra como transformar achados em argumento claro, conciso e convincente sem alongar o texto. Neste guia, você vai estruturar a Discussão de artigo científico, evitar 14 erros clássicos e traduzir implicações em recomendações acionáveis.
A lógica é simples: a seção de Resultados apresenta dados; a Discussão apresenta interpretações. Vamos usar o “funil invertido” para começar pelo que você descobriu e abrir gradualmente para literatura, limitações e implicações. Se precisar de base adicional, consulte seu conteúdo pilar sobre estrutura de artigo e, para planejar a escrita, um cronograma simples já ajuda.
Para integrar com o restante do projeto, lembre-se de coordenar a Discussão com decisões como a escolha da revista e o uso de um gerenciador de referências — isso evita retrabalho na revisão por pares.
O que é Discussão de artigo científico
A Discussão é a seção em que você interpreta os resultados, explica o que eles significam à luz da literatura e indica implicações, limitações e próximos passos. É uma narrativa independente que conecta Introdução e Resultados.

Como estruturar a Discussão de artigo científico
A estrutura típica funciona como um roteiro que o leitor já espera encontrar:
- Principais achados do estudo, resumidos em até 2–3 frases.
- Comparação com estudos anteriores (convergências, divergências e possíveis razões).
- Pontos fortes e limitações, com transparência sobre vieses e incertezas.
- Implicações para a prática e/ou pesquisa, com recomendações específicas.
Dica de estilo: comece pelo concreto (suas descobertas) e avance para o geral (o campo). Evite repetir dados em detalhes — cite números apenas quando necessário para sustentar a interpretação.

Use o funil invertido para narrar a história
Enquanto a Introdução vai do amplo ao específico, a Discussão faz o caminho inverso:
- Estreita: responda diretamente à pergunta de pesquisa.
- Média: compare com a literatura e discuta possíveis mecanismos.
- Ampla: mostre implicações para prática, política e novas pesquisas.
Regra de ouro: resultados reportam dados; discussão defende interpretações plausíveis com base nesses dados.
Resuma os principais achados com clareza
- Escreva em até três frases o que é novo e por que importa.
- Inclua achados positivos e inesperados (isso aumenta a credibilidade).
- Mostre como seu estudo preencheu uma lacuna da literatura.
Exemplo de linguagem mais clara:
- Em vez de “33% dos indivíduos apresentaram resultado ruim”,
- Prefira “um terço dos pacientes apresentou resultado ruim”.
Compare seus achados com a literatura, com rigor e tato
Pergunte-se:
- Como meus resultados se comparam a estudos semelhantes?
- Há consistência ou divergência? Por quê?
- As diferenças podem vir de método, amostra, local ou população?
Orientações práticas:
- Priorize artigos recentes de periódicos confiáveis.
- Evite críticas agressivas; destaque contribuições e diferenças metodológicas.
- Quando houver concordância, explicite o que seu estudo acrescenta de novo.
- Seja transparente sobre limitações (amostra, viés de seleção, medidas, desenho).
Reconheça limitações e destaque pontos fortes
- Liste limitações de forma honesta; revisores as identificarão de qualquer modo.
- Contrabalance com pontos fortes (ex.: desenho prospectivo, cegamento, medidas validadas).
- Explique como limitações afetam a interpretação e generalização dos achados.
- Aponte como estudos futuros podem superar essas limitações.
Quando tocar em responsabilidades e contribuições, alinhe critérios de autoria às Recomendações do ICMJE (2025) sobre autoria e responsabilidade (ICMJE, 2025) e, em caso de dúvidas ou disputas, às orientações da COPE para disputas de autoria (COPE).
Traduza implicações em recomendações específicas
- Evite generalidades como “mais pesquisas são necessárias”.
- Indique o que muda na prática (ex.: para quem, quando, sob quais condições).
- Para políticas e diretrizes, prefira voz passiva quando o agente não for relevante.
- Para pesquisa, proponha uma pergunta testável, um desenho viável e uma medida clara de desfecho.

Erros comuns (e como evitar)
1) Conclusões não suportadas por dados — amarre cada inferência a um resultado.
2) Ignorar fatores de confusão — explicite covariáveis-chave e análises de sensibilidade.
3) Exagerar a importância ou a generalização — delimite a população-alvo.
4) Avaliação incompleta/tendenciosa — cubra literatura convergente e divergente.
5) Interpretação incorreta — valide a lógica causal; evite post hoc.
6) Omissão de descobertas inesperadas — descreva e ofereça hipóteses plausíveis.
7) Não discutir evidências recentes — atualize a busca antes de submeter.
8) Tirar conclusões erradas — peça revisão interna cruzada.
9) Não reconhecer limitações — inclua-as de forma explícita.
10) Discutir resultados não relatados — mantenha consistência com a seção de Resultados.
11) Repetir resultados em detalhes — foque no significado, não na recontagem.
12) Repetir a introdução — evite refazer contexto amplo.
13) Omitir referências importantes — verifique clássicos e estudos-chave.
14) Tornar a discussão longa demais — corte redundâncias e motivações históricas.

Passo a passo
1. Defina a mensagem central
Escreva uma frase que responda à pergunta de pesquisa e capture o que é novo.
2. Liste 2–3 achados principais
Use linguagem clara e breve, incluindo achados inesperados relevantes.
3. Conecte achados a mecanismos plausíveis
Proponha explicações ancoradas em teoria, método e contexto.
4. Compare com a literatura-chave
Apresente convergências e divergências e sugira razões verificáveis (método, amostra).
5. Explicite limitações e pontos fortes
Descreva impacto das limitações na interpretação e na generalização.
6. Derive implicações práticas e de pesquisa
Indique recomendações específicas e uma próxima pergunta testável.
7. Redija a conclusão memorável
Em 2–3 frases, reforce o significado do estudo e a contribuição central.
8. Revise por concisão e cautela
Troque “prova” por “sugere/indica”, elimine repetições e assegure coerência com Resultados.
Conclusão
A Discussão é onde dados viram conhecimento. Ao seguir o funil invertido, sustentar interpretações com evidências e explicitar limitações e implicações, você entrega uma história científica que o leitor consegue aplicar. Baixe um modelo de esqueleto e duplique uma planilha simples de cronograma — em 15 minutos você sai com um roteiro aplicável à sua área.
Checklist
- Mensagem central definida em 1 frase.
- 2–3 achados resumidos com clareza (incluindo inesperados).
- Comparação com literatura recente e relevante.
- Limitações e pontos fortes explícitos.
- Implicações práticas e de pesquisa específicas.
- Conclusão curta e memorável.
- Tom cauteloso, sem repetir resultados nem a introdução.
FAQ
Pergunta: Como começar a Discussão de artigo científico do zero sem repetir a introdução?
Resposta: Abra com a resposta à pergunta de pesquisa em 1–2 frases e resuma 2–3 achados principais. Evite reexplicar o contexto; a Introdução já cumpriu esse papel. Em seguida, avance para mecanismos e comparação com a literatura.
Pergunta: Quanto tempo reservar para redigir a discussão com progresso visível?
Resposta: Planeje em blocos de foco (ex.: 2–3 sessões de 60–90 minutos) para produzir uma versão completa e uma rodada de revisão. Use a primeira sessão para achados e mecanismos, a segunda para literatura e limitações, e a terceira para implicações e conclusão.
Pergunta: Quais critérios usar para comparar meus resultados com a literatura sem viés?
Resposta: Priorize estudos com desenho, população e medidas semelhantes; descreva convergências e divergências, oferecendo razões metodológicas. Atualize a busca antes de submeter e cite estudos recentes e clássicos relevantes.
Pergunta: Como tratar limitações sem enfraquecer a mensagem do estudo?
Resposta: Declare limitações com honestidade, explique seu impacto na interpretação e contrabalance com pontos fortes. Aponte como pesquisas futuras podem superar as limitações; isso reforça credibilidade.
Pergunta: Quais sinais mostram que a qualidade da discussão caiu e o que corrigir primeiro?
Resposta: Sinais: repetição de resultados, ausência de diálogo com a literatura e conclusões fortes demais para os dados. Priorize clareza dos achados, comparação equilibrada e tom cauteloso nas inferências.
Pergunta: Quando mencionar autoria, contribuições e responsabilidade na discussão?
Resposta: A discussão pode citar responsabilidades de análise/interpretação quando relevante, mas autoria segue critérios de contribuição substancial e responsabilidade compartilhada. Consulte as Recomendações do ICMJE (2025) para critérios de autoria e a COPE para orientar disputas de autoria.
Pergunta: Quando compartilhar o rascunho da discussão com coautores e quando enviar para a revista?
Resposta: Compartilhe após a primeira versão coesa (com achados, literatura, limitações e implicações) e peça comentários focados. Envie quando houver consenso nos pontos centrais e referências atualizadas; ajuste ao escopo da revista-alvo.
Pergunta: O que fazer se, após duas semanas, a estratégia escolhida não gerar uma discussão clara?
Resposta: Volte à mensagem central, reduza para 2–3 achados, reescreva cada parágrafo com uma ideia principal e use revisões por pares internos. Se o impasse envolver autoria ou escopo, siga orientações institucionais e as da COPE.
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Atualizado em 22/09/2025
Diretrizes consultadas: ICMJE; COPE.