Você está finalizando a graduação ou já encerrada, pronta para começar um mestrado, e sente que a IA pode ser um atalho precioso; aceitar saídas de modelos generativos como conteúdo final contamina todo o pré‑projeto e aumenta o risco de retrabalho e perda de credibilidade. Este texto mostra por que esse hábito é perigoso e entrega passos aplicáveis e verificáveis para evitar alucinações, citações fabricadas e retrabalho, com medidas que você pode aplicar já na fase de rascunho.
A proposta aqui é prática: explico por que o problema ocorre, como evidências técnicas e diretrizes institucionais tratam o tema e, sobretudo, entrego uma regra prática de 3 passos aplicada em checklists e um método em 7 passos para reduzir riscos em 7–14 dias de trabalho inicial.
Trate a IA como assistente criativo, não como fonte final: verifique toda afirmação e cada referência em bases primárias antes de incorporar ao pré-projeto; documente prompts e consulte seu orientador para validação e integridade do texto.
Perguntas que vou responder
- Por que confiar cegamente em IA prejudica meu pré-projeto?
- Onde, no contexto brasileiro, isso acontece e o que as universidades recomendam?
- Quem tem responsabilidade sobre o conteúdo gerado pela IA?
- Como montar um processo seguro para usar IA no pré-projeto?
- Quais erros comuns devo evitar e o que fazer em alternativa?
- Como documentar e apresentar o uso de IA ao orientador e à banca?
Por que confiar cegamente na IA prejudica seu pré-projeto?

Conceito em 1 minuto
A perda de rigor começa quando textos, citações e estruturas sugeridas por IA são aceitos sem checagem; o risco é duplo: informações fabricadas e redução da sua contribuição conceitual inicial, o que compromete metodologia e revisão de literatura.
O que os estudos mostram
Pesquisas técnicas mostram que modelos gerativos podem produzir alucinações, ou seja, combinações plausíveis de palavras que não correspondem a fontes reais [F4]. Análises em contexto acadêmico destacam casos de citações inexistentes e inconsistências factuais que exigem supervisão humana [F6].
Checklist rápido para identificar perigo

- Peça: toda citação proposta pela IA deve ter DOI ou link verificável antes de aceitar.
- Verifique: busque o texto original em bases indexadas (SciELO, BVS, PubMed) antes de incorporar.
- Documente: salve o prompt e a versão da ferramenta no arquivo do pré‑projeto.
Em tarefas de criatividade conceitual, como pensar hipóteses iniciais ou sugerir títulos, a IA ajuda; no entanto, quando se trata de fatos verificáveis, métodos e citações, não confie sem checar; se não houver acesso a bases, adie a inclusão até obter fontes primárias.
Onde isso acontece no Brasil e o que as instituições recomendam?
Conceito em 1 minuto
O ambiente relevante inclui programas de pós‑graduação, pró‑reitorias, bibliotecas e comissões de integridade; universidades já publicam diretrizes que exigem transparência no uso de IAG e procedimentos de verificação.
O que as diretrizes brasileiras dizem
Guias institucionais brasileiros orientam declarar uso de IAG, registrar prompts e não aceitar conteúdos gerados como substitutos de fontes primárias [F1] [F3]. Revistas e órgãos ligados à informação científica debatem políticas e recomendações para uso responsável [F2].
Passos práticos para seguir a política institucional
- Consulte o guia da sua pró‑reitoria ao preparar o pré-projeto.
- Na versão inicial, inclua seção curta “Uso de IAG” com prompts e versão da ferramenta.
- Peça suporte da biblioteca para estratégias de checagem em bases indexadas.
Se a sua instituição não tiver diretriz formal publicada, não é desculpa para uso acrítico; adote as práticas que universidades já recomendam e combine com seu orientador um procedimento local até que haja norma oficial.

Quem precisa agir: papéis e responsabilidades
Conceito em 1 minuto
Responsabilidade final do conteúdo é do estudante/autor; orientador supervisiona e valida; bibliotecas e comissões ajudam com verificação e políticas.
Exemplo real na prática
Um estudante incorporou sumários gerados por IA, que continham citações inventadas; a biblioteca local detectou erros e orientou checagem sistemática, o orientador pediu correções e o trabalho precisou ser refeito parcialmente — esse tipo de retrabalho é evitável com protocolo simples [F3].
Lista prática de responsabilidades
- Estudante: verificar fontes, documentar prompts e manter rastro de versões.
- Orientador: revisar metodologias propostas e exigir evidências de fontes primárias.
- Biblioteca: treinar pesquisa em bases e apoiar RAG ou checagem manual.
Em projetos cooperativos com vários autores, a responsabilidade compartilhada pode confundir; defina, desde o início, quem valida cada seção e quem assina a responsabilidade intelectual.
Como evitar o erro nº 1: método prático em 7 passos
Conceito em 1 minuto
Transforme o uso da IA em processo: ideação assistida, verificação obrigatória, documentação e validação por pares; isso reduz risco e mantém sua autoria.
O que técnicas como RAG fazem e por que ajudam
Estratégias como Retrieval Augmented Generation retornam respostas ancoradas em documentos reais, reduzindo alucinações quando bem implementadas; instituições recomendam limitar a IA a tarefas de edição linguística ou brainstorming, não a factualização sem checagem [F1].
Passo a passo aplicável (7 passos)
- Use IA para brainstorm de títulos, perguntas e linhas de argumento.
- Sempre peça à IA para listar as fontes que embasam cada afirmação.
- Verifique cada fonte: localize DOI ou texto na base indexada.
- Registre o prompt, a data e a versão da ferramenta no arquivo do projeto.
- Aplique RAG se disponível, ou peça ajuda da biblioteca para buscas dirigidas.
- Submeta rascunho ao orientador com evidências das checagens.
- Inclua uma seção “Transparência sobre uso de IAG” no pré‑projeto.
Se seu projeto depender de dados sensíveis ou análises que exigem validação ética, não use IA para gerar métodos finais; use‑a apenas para rascunho e discuta alternativas com a comissão de ética.
Erros comuns ao usar IA no pré-projeto e alternativa prática
Conceito em 1 minuto
Erros típicos incluem aceitar citações sem verificar, copiar parágrafos gerados sem reescrever e confiar em sumários de autores sem ler as fontes; o resultado é risco de plágio indireto e perda de originalidade.
Exemplo autoral: como eu evitaria um sumário fabricado

Suponha que a IA forneça um parágrafo atribuído a um autor X com citação e ano. Em vez de inserir, procure o artigo original, leia o contexto e escreva um resumo próprio com citação correta e DOI; isso preserva sua voz e evita erros.
Modelos alternativos e template rápido
- Modelo A: Brainstorm com IA → verificação de fontes → revisão pelo orientador.
- Modelo B: Edição linguística por IA (sem inserir novas citações) → checagem manual.
Quando a base de dados não tem acesso aberto ao texto completo, registre a limitação, peça acesso via biblioteca e sinalize a incerteza na seção de métodos.
Como validamos
Validamos propondo práticas alinhadas com diretrizes institucionais e com evidências técnicas sobre limites de modelos generativos; as recomendações combinam resultados de pesquisa técnica sobre alucinações [F4], análises contextualizadas em publicação científica [F6] e diretrizes brasileiras para uso responsável de IAG [F1] [F3].
As ações sugeridas foram testadas em ambientes de orientação e ajustadas para a realidade de programas de pós‑graduação.
Conclusão rápida e chamada à ação
O erro nº 1 é confiar acrítica e definitivamente nas saídas da IA no seu pré‑projeto. A ação imediata: verifique cada afirmação e referência em bases primárias e registre prompts e versões antes de submeter ao orientador.
FAQ
Posso usar IA para gerar a revisão de literatura?
Tese: Use IA apenas como ferramenta de rascunho e brainstorming, não como fonte final. Confirme cada referência em bases primárias e reescreva em suas palavras para preservar autoria. Próximo passo: revise todas as referências sugeridas pela IA e localize o DOI ou texto completo antes de incorporar.
E se a IA sugerir uma citação que não encontro?
Tese: Não inclua referências não verificadas; elas comprometem a integridade do trabalho. Marque a citação como pendente e tente localizar DOI/texto; se não houver confirmação, descarte a referência gerada pela IA. Próximo passo: mantenha uma lista “pendentes” no documento e resolva com a biblioteca ou orientador antes da submissão.
Preciso declarar o uso de IA no pré-projeto?
Tese: Sim, declare o uso quando a instituição exigir e registre prompts e versão mesmo sem exigência formal. Transparência reduz risco e facilita a revisão. Próximo passo: inclua uma seção “Transparência sobre uso de IAG” com prompts, versão e finalidade.
O que faço se o orientador confiar na IA?
Tese: Oriente foco na checagem de fontes e mostre exemplos de alucinações para evidenciar o risco. Peça que cada fonte seja verificada em bases indexadas; envolva a biblioteca se necessário. Próximo passo: solicite uma sessão conjunta com orientador e bibliotecário para definição do protocolo de verificação.
Quanto tempo extra isso toma?
Tese: A checagem inicial adiciona horas à fase de rascunho, mas evita dias ou semanas de retrabalho posterior. É um investimento que protege sua integridade acadêmica. Próximo passo: reserve 1–3 horas adicionais por seção da revisão para verificação de fontes antes da submissão.
Elaborado pela Equipe da Dra. Nathalia Cavichiolli.
Dra. Nathalia Cavichiolli — PhD pela USP, com dois pós‑doutorados; MBA em Gestão e Docência; experiência internacional na The Ohio State University (EUA); revisora de periódicos científicos pela Springer Nature, com atuação em 37+ revistas, incluindo a Nature; especialista em escrita científica há 15+ anos; pioneira no uso de IA para escrita científica no Brasil; 2.800+ alunos impactados no Brasil e em 15+ países.
Referências
- [F4] – https://openreview.net/forum?id=8T8QkDsuO9
- [F6] – https://www.scielo.br/j/pci/a/GVCW7KbcRjGVhLSrmy3PCng/
- [F1] – https://prpg.unicamp.br/wp-content/uploads/sites/10/2025/01/livro-diretrizes-ia-1.pdf
- [F3] – https://www.ufba.br/sites/portal.ufba.br/files/guia_para_uso_etico_e_responsavel_da_inteligencia_artificial_generativa_na_universidade_federal_da_bahia.pdf
- [F2] – https://revista.ibict.br/ciinf/politicaIA
Atualizado em 24/09/2025