Você está acabando a graduação ou se preparando para o mestrado e sente que precisa dominar o que há de mais recente na sua área. Sem um mapa claro, corre o risco de repetir estudos, perder prazos de submissão ou comprometer candidaturas e bolsas. Este texto apresenta um fluxo prático e repetível em regra prática de 3 passos para mapear, sintetizar e manter atualizado o estado da arte em 4–8 semanas, reduzindo retrabalho e fortalecendo seu projeto.
Prova: diretrizes metodológicas e guias nacionais e internacionais usados por programas e avaliadores foram considerados na construção deste texto [F4] [F9]. Nas seções seguintes você verá o que buscar, como escrever buscas robustas, como organizar triagem e síntese, e como manter o mapa vivo.
Perguntas que vou responder
- O que exatamente é estado da arte e quando devo fazê-lo?
- Como escolher entre scoping, revisão narrativa e revisão sistemática?
- Onde buscar e como montar strings eficientes?
- Como organizar triagem, deduplicação e equipe?
- Como sintetizar, apresentar lacunas e reportar métodos?
- Como manter o estado da arte atualizado sem perder controle?
O que é estado da arte e quando usar
Conceito em 1 minuto: definição operacional
Estado da arte é uma síntese orientada do conhecimento mais recente e relevante sobre um tema. Não é listar artigos: trata-se de mapear tendências, lacunas, métodos e consensos para situar sua pesquisa. Operacionalize com escopo, recorte temporal e critérios claros desde o protocolo [F4].
O que os guias e a prática mostram [F4] [F9]
Estudos e diretrizes enfatizam transparência e alinhamento entre pergunta, fontes e critérios. Em avaliações como as da CAPES, demonstrar domínio do estado da arte é critério de qualidade e evita omissões que podem comprometer conclusões [F9]. Isso é proteção ética e epistemológica.
Checklist rápido para decidir agora
- Defina objetivo e pergunta inicial (ampla ou fechada).
- Escolha o tipo de revisão conforme objetivo: scoping para mapeamento amplo, narrativa para síntese conceitual, sistemática para perguntas fechadas.
- Registre datas e limites de inclusão/exclusão.
Um levantamento curto de 20 artigos não é estado da arte se o tema é amplo e recente. Se o tempo for curto, prefira um scoping enxuto com documentação clara e planeje atualização posterior.
Como escolher o tipo de revisão para seu projeto

Ilustra decisão entre scoping, narrativa ou revisão sistemática e ajuda a visualizar caminhos metodológicos.
Regra prática em 1 minuto
Pergunte-se: minha pergunta é exploratória ou exige resposta precisa? Para identificar temas e lacunas use scoping; para construir quadro teórico centrado use narrativa; para estimativas ou efeitos use revisão sistemática com protocolo.
Evidência metodológica e guias recomendados [F6] [F2]
Redes e guias de scoping (JBI) e estudos sobre métodos mostram que scoping é ideal quando a literatura é heterogênea. Revisões sistemáticas exigem perguntas fechadas e mais recursos. Em contextos de pós-graduação, combinar um mapeamento inicial com síntese narrativa costuma equilibrar rigor e prazo [F6] [F2].
Tabela de decisão rápida (como escolher)
- Objetivo: mapear campo amplo → scoping.
- Objetivo: sintetizar teorias/conceitos → revisão narrativa.
- Objetivo: responder efeito/diagnóstico → revisão sistemática.
- Recursos limitados → scoping + síntese focal.
Se sua vaga exige evidência de efeito (ex.: intervenção clínica), uma narrativa não basta. Mude para revisão sistemática ou inclua estudos primários para complementar.
Onde buscar e como montar buscas eficientes
Conceito em 1 minuto: prioridade das fontes

Mostra organização de bases e material para montar buscas eficientes e priorizar fontes relevantes.
Combine bases internacionais (PubMed, Scopus, Web of Science) com repositórios e coleções brasileiras (SciELO, repositórios institucionais, CAPES) e preprints quando relevante. Use pelo menos três fontes para cobertura básica [F1].
O que as bases mostram na prática [F1]
Estudos sobre cobertura de bases mostram sobreposição, mas também falhas se você usar apenas uma fonte. Em contextos brasileiros, repositórios locais e teses podem conter evidências não indexadas nas bases internacionais [F1].
Modelo de string e passos para testar agora
- Liste termos principais e sinônimos em português e inglês.
- Use operadores booleanos e campos (título/abstract).
- Itere na base com variantes, registre cada versão e salve resultados.
- Exporte metadados completos para gerenciador de referências.
Exemplo autoral: numa revisão sobre teleassistência em atenção primária iniciei com 3 termos raiz, traduzi para inglês, testei combinações em PubMed e SciELO, e registrei 6 iterações da string antes de finalizar. Isso evitou perder estudos relevantes.
Strings excessivamente longas sem testagem geram ruído. Se isso ocorrer, comece com termos essenciais e amplie por iteração controlada.
Como organizar triagem, deduplicação e equipe
Conceito em 1 minuto: trabalho em equipe minimiza viés
A triagem dupla reduz erros. Bibliotecários ajudam a construir strings e gerenciar exportações. Para revisões maiores tenha pelo menos duas pessoas para triagem e um revisor metodológico [F5].
Ferramentas e práticas testadas [F5]
Ferramentas como Rayyan facilitam triagem cega e deduplicação. Gerenciadores de referência (Zotero, EndNote) combinados com filtros e pastas aceleram a organização. Em equipes, registre decisões de inclusão/exclusão para audit trail [F5].
Fluxo de trabalho prático em 6 passos

Representa o fluxo prático de triagem e extração em etapas organizadas para reduzir viés.
- Importar resultados em gerenciador de referências.
- Deduplicar com ferramenta e checagem manual.
- Triagem título/resumo em dupla, registrar motivos de exclusão.
- Triagem texto completo em dupla.
- Extração padronizada em planilha.
- Revisão final por orientador e revisor metodológico.
Fazer triagem sozinho é possível em revisões muito pequenas, mas aumenta risco de vieses. Se for inevitável, peça ao orientador uma checagem de 20% das decisões.
Como sintetizar, apresentar lacunas e reportar o método
Conceito em 1 minuto: síntese com propósito
Synthesize para responder à sua pergunta e situar lacunas. Use tabelas de características, mapas conceituais e evidence gap maps para mostrar onde faltam estudos ou quais métodos dominam o campo.
Exemplos de saída e padrões de relatório [F2] [F3]
Guias PRISMA-ScR e práticas recentes sugerem fluxogramas, tabelas de extração e transparência quanto a limites e datas de busca. Em relatórios para programas, destaque implicações para seu projeto e para avaliações institucionais [F2] [F3].
Passos práticos para escrever a seção de estado da arte
- Crie uma tabela com: autor, ano, desenho, população, resultado-chave, lacunas apontadas.
- Faça um mapa conceitual com 3–5 temas prioritários.
- Inclua um parágrafo sobre limitações metodológicas das evidências.
Empilhar resumos de artigos sem síntese reduz valor. Se houver muitos estudos, faça categorias temáticas e ofereça síntese por tema, não por artigo.
Como manter o estado da arte vivo e atualizável

Mostra como alertas e integrações digitais ajudam a manter o mapa de evidências atualizado.
Conceito em 1 minuto: automação básica salva tempo
Use alertas, RSS e filtros automáticos no gerenciador de referências para ingestão contínua. Quando o tema muda rápido, adote revisões vivas com atualizações periódicas.
Ferramentas e recomendações práticas [F6] [F1]
APIs de bases, Google Scholar Alerts, notificações de preprints e integrações com Zotero/EndNote permitem criar um fluxo de ingestão. Em temas muito dinâmicos, planeje atualizações trimestrais ou uma living review formal [F6] [F1].
Mini-guia para configurar alertas em 5 passos
- Salve a string final em cada base que permite alertas.
- Ative notificações por e-mail ou RSS.
- Configure filtros automáticos no Zotero/EndNote para marcar novos itens.
- Faça triagem mensal dos itens marcados.
- Registre atualizações principais no documento mestre.
Deixar alertas sem rotina de checagem gera acúmulo. Se você não consegue checar mensalmente, programe revisões trimestrais e priorize itens marcados por palavra-chave.
Como validamos
Validei os passos combinando recomendações metodológicas e fontes nacionais e internacionais presentes na pesquisa [F4] [F1] [F6], e cruzei com práticas de gerência de revisões e ferramentas de triagem. Usei experiência prática em orientação de alunos e implantação de fluxos de ingestão automatizados; onde as fontes divergem, optei por soluções pragmáticas que conciliam rigor e prazo.
Conclusão rápida e próximo passo
Adote um protocolo enxuto (objetivo, fontes, critérios, datas), faça mapeamento inicial amplo e depois sintetize em temas prioritários. Ação prática agora: defina sua pergunta e registre a primeira string de busca em uma planilha; consulte o serviço de biblioteconomia da sua universidade para apoio em strings e alertas.
FAQ
Quanto tempo leva para fazer um estado da arte aceitável para mestrado?
Um scoping enxuto pode ser feito em 4–8 semanas com dedicação regular. Documente tudo desde o primeiro dia para evitar retrabalho.
Preciso incluir preprints?
Inclua preprints quando o tema for emergente e especifique o status na tabela de extração. Marque preprints separadamente na extração como próximo passo.
Posso fazer triagem sozinho se estiver com pressa?
É possível em revisões pequenas, mas aumenta o risco de vieses. Faça checagem por pares em 20% das decisões para reduzir vieses.
Como mostrar no projeto que o estado da arte está atualizado?
Informe datas de busca, bases consultadas e anexe um fluxograma e tabela de extração. Inclua um parágrafo sobre limites e próximas atualizações como próximo passo.
Living review é obrigatório?
Não, é recomendado apenas para temas muito voláteis. Como alternativa prática, programe atualizações trimestrais com alertas automatizados.
Elaborado pela Equipe da Dra. Nathalia Cavichiolli.
Dra. Nathalia Cavichiolli — PhD pela USP, com dois pós-doutorados; MBA em Gestão e Docência; experiência internacional na The Ohio State University (EUA); revisora de periódicos científicos pela Springer Nature, com atuação em 37+ revistas, incluindo a Nature; especialista em escrita acadêmica há 15+ anos; pioneira no uso de IA para escrita científica no Brasil; 2.800+ alunos impactados no Brasil e em 15+ países.
Referências
- [F4] – https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/175228/6/Texto%20Base%20Unidade%2003%20TCC%20vp.pdf
- [F9] – https://www.gov.br/capes/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/avaliacao/…/LINGUIST_LITERATURA_DOCAREA_2025_2028.pdf
- [F1] – https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38169156/
- [F2] – https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0895435624003287
- [F6] – https://jbi.global/scoping-review-network/resources