5 erros que você comete ao usar IA na pós-graduação e como evitá-los

Mesa de estudo com laptop, anotações e artigos, simbolizando desafios da pesquisa e uso de IA na pós-graduação.

Usar IA na pós-graduação pode agilizar tarefas, mas práticas mal registradas e confiança excessiva em respostas automatizadas podem pôr em risco sua integridade acadêmica e atrasar ou invalidar uma defesa. Especialmente ao migrar da graduação para o mestrado (primeiros 12–18 meses), erros comuns aumentam o risco de sanções ou retrabalho. Este texto entrega, em linguagem direta e com checklists práticos, como evitar os cinco erros mais comuns e como corrigir em poucas semanas as ações essenciais.

Prova curta: diretrizes de programas e pró-reitorias já tratam a IA como apoio, nunca como substituto da autoria, e pedem transparência [F2]. O que vem a seguir: perguntas-chaves, explicações rápidas, evidências com referências e checklists práticos para cada erro.

Usar IA sem declarar, aceitar respostas sem checar, delegar a escrita crítica, vazar dados em prompts e ignorar políticas são os cinco erros mais comuns. Declare no método, verifique fatos com fontes primárias, mantenha a autoria intelectual, proteja dados sensíveis e siga a política da sua pró-reitoria. Essas ações reduzem risco ético e reputacional.

Perguntas que vou responder

  • Vale a pena usar IA na redação acadêmica?
  • Quando preciso declarar o uso de IA?
  • Como checar se a saída da IA é confiável?
  • Posso usar IA para escrever partes da tese?
  • Como proteger dados ao usar ferramentas públicas?
  • O que fazer se minha instituição não tem diretrizes claras?

Não declarar o uso de IA

Pilha de documentos e laptop em mesa de reunião, representando políticas institucionais sobre uso de IA.
Sugere consultar e implementar políticas institucionais para uso responsável de IA na pesquisa.

Conceito em 1 minuto: por que declarar importa

Declarar significa registrar onde, como e com que ferramentas a IA contribuiu para o trabalho. Transparência protege você e orientadoras, evita acusações de má conduta e clarifica autoria intelectual.

O que as instituições e estudos mostram [F2]

Diretrizes institucionais têm recomendado documentação do uso de IA nas seções de metodologia, agradecimentos ou apêndices, tratando a ferramenta como apoio e não como coautoria [F2]. Ignorar isso já motivou debates públicos sobre políticas universitárias [F3].

Checklist em prancheta sobre mesa de estudo com caneta e óculos, pronto para anotar declaração de uso de IA.
Checklist visual para guiar a declaração do uso de IA na seção de metodologia.

Checklist prático: como declarar agora

  • Seção curta em metodologia ou nota de rodapé: ferramenta, versão e papel (p. ex., rascunho, revisão de estilo).
  • Anexe prompts exemplares no apêndice quando relevante.
  • Peça ao seu orientador para validar a declaração antes da submissão.

Em comunicações muito curtas, como resumos de evento, declarar detalhadamente pode ser impraticável; ainda assim, registre internamente o uso para a banca.


Aceitar sem checagem respostas geradas

Conceito em 1 minuto: o risco das “hallucinations”

Modelos de linguagem podem produzir fatos plausíveis, porém falsos. Confiar sem verificação compromete evidência e argumentos centrais.

O que os dados e guias apontam [F1][F5]

Estudos e guias alertam para erros factuais e referências fictícias geradas por LLMs; por isso, a verificação com fontes primárias é mandatória antes de citar qualquer saída [F1][F5].

Passo a passo para checagem rápida

  • Cheque cada afirmação factual em bases primárias ou artigos revisados por pares.
  • Se a IA sugerir referências, confirme título, autores e DOI na base da sua área.
  • Use ferramentas de checagem e um bloco de notas para rastrear origem das informações.

Dica prática exclusiva: adote um fluxo de verificação 3 etapas: 1) sinalize a afirmação, 2) confirme em fonte primária, 3) registre a comprovação no apêndice. Limite: quando a pesquisa exige achados inéditos, a IA não substitui levantamento empírico.


Mãos digitando em laptop ao lado de rascunhos anotados, ilustrando reescrita e edição crítica.
Mostra a prática de reescrever rascunhos automatizados para preservar autoria e pensamento crítico.

Delegar a escrita crítica da tese à IA

Conceito em 1 minuto: onde a IA pode e onde não pode

IA ajuda a organizar texto, gerar rascunhos e sugestões de estilo. Não pode substituir julgamento crítico, formulação de hipóteses ou interpretação de dados — competências centrais do pesquisador.

Exemplos práticos e opinião de especialistas [F4]

Artigos sobre escrita acadêmica relacionam o uso de IA a uma melhoria na fluidez, mas alertam para perda de competência crítica se a ferramenta fizer o trabalho intelectual principal [F4].

Regras para usar IA como rascunho e edição

  • Use IA para gerar esboços curtos, cabeçalhos ou versões simplificadas.
  • Sempre reescreva e desenvolva argumentos com sua voz e autoridade.
  • Documente qual percentual do texto foi baseado em rascunho automatizado.

Exemplo autoral: acompanhei uma orientanda que usou um rascunho gerado pela IA para estruturar o capítulo de revisão; ela reescreveu 80% do texto e anotou as mudanças no apêndice, o que tornou a banca confortável com a autoria. Quando não funciona: se o curso exige demonstração de redação própria como competência avaliativa, evite qualquer uso que produza conteúdo original substitutivo.


Expor dados sensíveis em prompts

Teclado de laptop com cadeado e tela com texto oculto, simbolizando proteção de dados sensíveis em pesquisas.
Ilustra o risco e a necessidade de proteger dados sensíveis ao formular prompts em ferramentas públicas.

Conceito em 1 minuto: o que é material sensível

Dados sensíveis incluem informações identificáveis de participantes, dados confidenciais de projetos ou material protegido por acordos. Enviar esses dados a ferramentas públicas pode violar ética e leis de proteção de dados.

O que orientações éticas indicam [F8][F2]

Manuais de ética e documentos institucionais pedem cuidado extremo com dados pessoais e recomendam anonimização ou uso de ambientes seguros antes de inserir qualquer informação em prompts [F8][F2].

Checklist de higiene de prompt

  • Nunca cole nomes, identificadores, entrevistas integrais ou arquivos confidenciais em ferramentas públicas.
  • Anonimize e substitua por marcadores tipo [PARTICIPANTE_A] antes de testar prompts.
  • Prefira instâncias locais ou servidores institucionalizados para processamento de dados sensíveis.

Limite: para protótipos exploratórios sem dados reais, prompts com dados fictícios funcionam; porém, resultados não valem como evidência empírica.


Ignorar políticas institucionais

Conceito em 1 minuto: por que políticas importam

Políticas definem regras de conformidade, requisitos de declaração e eventuais sanções. Ignorá-las cria risco burocrático e ético.

O que universidades e agências estão fazendo [F2][F3]

Pró-reitorias e agências de fomento discutem e publicam diretrizes que podem ser exigidas em editais e bancas; algumas exigem declaração explícita de uso de IA [F2][F3].

Modelo para consultar e implementar políticas locais

  • Verifique o portal da sua pró-reitoria e o regulamento do seu programa.
  • Envie ao colegiado uma minuta simples com proposta de declaração de IA (modelo abaixo).
  • Inclua na sua ficha de registro de projeto a seção: “Uso de IA: ferramenta, versão, finalidade”.

Modelo de frase para declaração institucional: “Parte do rascunho foi assistida por ferramenta de IA X; todas as saídas foram verificadas e adaptadas pela autora.” Contraexemplo: se sua instituição proíbe qualquer uso de IA para avaliação formativa, ajustar o uso para fins de edição de estilo pode não ser permitido; consulte a coordenação.


Como validamos

Reunimos diretrizes institucionais e artigos jornalísticos especializados, cruzamos orientações de pró-reitorias com estudos sobre riscos de LLMs e práticas éticas [F2][F1][F3][F8]. Priorizei documentos oficiais quando disponíveis, e selecionei recomendações práticas que você pode aplicar já na próxima versão do seu trabalho.

Conclusão rápida e chamada à ação

Resumo: declare, verifique, preserve a autoria, proteja dados e siga políticas. Ação prática agora: abra o rascunho da dissertação e adicione uma nota metodológica breve sobre qualquer uso de IA; consulte em seguida as diretrizes da sua pró-reitoria para modelar a declaração [F2].

FAQ

Preciso declarar se usei IA só para revisar gramática?

Sim, declare mesmo usos de edição, especificando a função. Uma nota simples evita mal-entendidos na banca.

E se a IA sugerir uma referência que não existe?

Pare e verifique a referência em bases acadêmicas antes de citá-la. Passo acionável: crie uma planilha para rastrear origens de referências sugeridas pela IA.

Minha orientadora não sabe muito sobre IA, como proceder?

Apresente a ela uma versão curta da sua prática de uso e peça que revisem juntas a declaração; ofereça o rascunho do apêndice com prompts exemplares. Agende uma reunião curta para validar a nota metodológica.

Ferramenta paga é mais segura para dados sensíveis?

Nem sempre; verifique políticas de privacidade e processamento de dados, prefira ambientes institucionais quando a confidencialidade for exigida. Antes de usar, solicite ao TI do programa uma avaliação de risco.

Minha universidade ainda não tem política, devo parar de usar IA?

Não necessariamente; documente internamente o uso, verifique fontes e proponha uma política simples ao colegiado do programa. Próximo passo: elabore uma minuta de declaração e envie ao coordenador do programa.


Elaborado pela Equipe da Dra. Nathalia Cavichiolli.

Dra. Nathalia Cavichiolli — PhD pela USP, com dois pós-doutorados; MBA em Gestão e Docência; experiência internacional na The Ohio State University (EUA); revisora de periódicos científicos pela Springer Nature, com atuação em 37+ revistas, incluindo a Nature; especialista em escrita acadêmica há 15+ anos; pioneira no uso de IA para escrita científica no Brasil; 2.800+ alunos impactados no Brasil e em 15+ países.

Atualizado em 24/09/2025